JOSÉ CARLOS FARINA, BLOGUEIRO E YOUTUBER

sábado, 3 de junho de 2017

ARBORIZAÇÃO PÚBLICA EM LONDRINA - NORTE DO PARANÁ

Londrina: a cidade que plantamos
Um resumo histórico da arborização municipal, que há menos de 100 anos era sinônimo de Mata Atlântica

Marcos Zanutto
Sibipirunas da alameda Miguel Blasi: grandiosidade que resiste ao tempo

Quem passa pelas grandes sibipirunas da alameda Miguel Blasi, pelos oitis da avenida Rio de Janeiro, ao lado da Caixa Econômica Federal, e até pelas quaresmeiras da avenida Higienópolis não imagina que essas árvores antigas chegaram até ali por mãos humanas. Entre o início da colonização, nos anos de 1930, até a década de 1950, a pequena área urbana de Londrina cresceu descoberta de vegetação arbórea. A mata original tinha sido desmatada pelos machadeiros e as poucas sombras provinham de árvores plantadas pelos próprios loteadores. 

Neste processo, grande parte das figueiras-brancas, pinheiros, perobas-rosas, paus-d´alho e outras espécies nativas da região deram lugar às casas e plantações. "Esse era um costume da nossa civilização, chegar e arrancar tudo. Mesmo os fundos de vale que temos hoje foram completamente destruídos e depois replantados", afirma Eduardo Panachão, biólogo da ONG Meio Ambiente Equilibrado (MAE). 

De acordo com relatos de Luiz Juliani, autor do livro Memórias de Caçador, a primeira área de mata devastada pela Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP) no início do loteamento de Londrina foi o quadrilátero central: das atuais ruas Brasil à Professor João Cândido; e da Espírito Santo à Benjamin Constant. 

Anos depois, a necessidade de sombras, frescor e embelezamento levou os administradores da cidade a se preocuparem com a arborização urbana. "No primeiro momento, as pessoas queriam tirar a floresta para ocupar o terreno, muito depois elas vão sentir falta do serviço público prestado pelas árvores. E a cidade, se organizando como prefeitura, começa a plantar árvores e regular o plantio", explica o professor do Laboratório de Biodiversidade e Restauração de Ecossistemas (Labre) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), José Marcelo Torezan. 


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Primeiro investimento 
Diante da nudez arbórea da cidade, em 1953 o então prefeito Milton Menezes mandou trazer da Floricultura Centenário, de São Paulo, 400 mudas de árvores. O jovem paisagista alemão recém-chegado ao Brasil, Erich Franz Kühnlei, foi enviado pela floricultura ao município para acompanhar o plantio. Ipês, tipuanas, sibipirunas e quaresmeiras estavam entre as espécies alocadas num trem em direção a Londrina. 

Mas a viagem demorou mais do que o esperado e as mudas secaram. A solução foi podar a parte seca e enterrar o restante das árvores numa área preparada para recuperá-las. Dois anos depois, as mudas estavam prontas para serem plantadas nas ruas. Foi assim que nasceu o primeiro Horto Municipal de Londrina. 

Enquanto isso, outros lotes de mudas foram comprados em São Paulo, mas trazidos de caminhão para preservar as árvores. As mudas que chegaram saudáveis foram aos poucos preenchendo a cidade. 

"Aquele centro ali, foi todo ele [Erich Kühnlei] quem plantou. Começou ali e foi descendo as outras ruas", conta Lindinalva Cavalcanti Kühnlei, esposa de Erich Kühnlei, que hoje está com 88 anos e por motivo de saúde não pôde dar entrevista. Com a ajuda da filha Rosana Cavalcanti Kühnlei, ela cita as árvores no entorno da Catedral, Praça 7 de Setembro, avenida Paraná, rua Goiás e avenida Higienópolis como obras de Kühnlei e sua equipe. 

'Tivemos uma produção espetacular' 


"Curitiba era uma cidade muito arborizada, mas perdia para Londrina e Maringá", relembra Noé da Silva, que chefiou a Divisão de Parques e Jardins, entre 1969 e 1985. Veja vídeo utilizando a tecnologia

Com o crescimento acelerado da cidade, o prefeito Dalton Paranaguá criou, em 1969, a Divisão de Parques e Jardins, subordinada à então Secretaria de Urbanismo, Obras e Viação. Um grupo de 70 homens, chefiado por Noé da Silva, foi remanejado da Divisão de Patrimônio só para cuidar das áreas verdes londrinenses.

"Tivemos uma produção espetacular nessa época. Curitiba era uma cidade muito arborizada, mas perdia para Londrina e Maringá", relembra Noé. Segundo ele, aproveitando a produção do horto, 800 mil mudas foram plantadas e outras 400 mil foram distribuídas para a população do município até o fim da sua chefia, em 1985. Silva recorda também que a única época em que precisou comprar mudas foi durante o loteamento dos Cinco Conjuntos, pois a demanda era grande e o terreno do primeiro horto tinha sido vendido. 

Como nem tudo são flores, a falta de conhecimento de algumas espécies e do solo trouxe surpresas que só apareceram anos depois. Muitas árvores cresceram bem mais do que o esperado. "Meu marido [Erich Franz Kühnlei] era novo aqui no Brasil, ele não sabia que a sibipiruna, a grevílea, o jacarandá, o flamboyant... iam ficar deste tamanho. No estado de São Paulo elas crescem menos; aqui, como a terra é muito boa, elas cresceram em dobro", relembra a esposa de Kühnlei, paisagista alemão que chegou em Londrina na década de 1950 para acompanhar o processo de arborização. 



Fim da Divisão 
A Divisão de Parques e Jardins acabou por volta de 1989. Logo, os cuidados com a arborização passaram para a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente (SMAA), depois para a Autarquia Municipal do Ambiente (AMA), até chegarem à atual Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema). 

De lá para cá, a grande mudança na análise do biólogo da Diretoria Técnica da Sema, Paulo Dolibaina, foi o volume da arborização urbana. "Até 1999, a Sbau [Sociedade Brasileira de Arborização Urbana] preconizava que plantio do lado da fiação tinha que ser de pequeno porte; e onde não tinha rede elétrica, de médio porte. Plantaram na cidade a falsa-murta, a aroeira-salsa. O nosso atual Plano Diretor veio modificar um pouco isso, a própria Sbau já mudou de posicionamento e agora defende o plantio de médio e grande porte", explica Dolibaina. 

Além disso, muitas árvores frondosas vêm sendo substituídas por causa da velhice e as novas mudas crescem mais lentamente, segundo o biólogo. "Nós tínhamos uma arborização mais pujante, mas essas árvores foram sendo substituídas e a substituição nunca acompanha o crescimento primário. Então tivemos uma redução de volume, mas aumento de planejamento", avalia.

Gabriela Nogueira
Especial para a FOLHA

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